segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Mobilidade Social Negra

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Angela Davis - Filósofa

Eu sou a exceção, não a regra. Eu olho em volta. Eu sempre olhei em volta e me percebi como uma das únicas pessoas negras nos ambientes escolares dos quais frequentava. Se muito, me deparava com um ou dois, ou dez de quarenta quando frequentei uma escola conveniada. Estou na universidade, não em um curso elitizado, mas que já se depara com certas asneiras como: "Por qual motivo alunos de escolas particulares fazem licenciatura?", e eu não tenho colegas negros. Eu tinha. Eles desistiram, assim como muitos brancos, mas eles ainda são maioria. Brancos de escola particular. E eu, a exceção entre a regra. Negra de escola particular. 

Eu não tinha colegas negros, eu me embranqueci. E ouvia comentários do estilo: "Mas você nem é tão negra..." , ou depois que me sujeitei ao alisamento capilar: "Seu cabelo nem é tão ruim assim...". Esse é o famoso: Parece elogio, mas é racismo. Tem exatamente 200 dias que cortei grande parte do meu cabelo alisado. Não foi uma aceitação imediada. E o volume? E o frizz? E a negritude? Meu cabelo não se encaixa mais em rabos de cavalo. Não está sempre impecável quando eu acordo. Além de ter uma dinâmica nova e por muito tempo esquecida. E os olhares desacostumados, mas sempre com uma frase pronta: "Tá na moda, né?".  Sim, está na moda se auto descobrir. Eu me sinto menos embranquecida. Mas o racismo ainda existe. O racismo existe porque perdemos tempo pensando se nossos atributos físicos e naturais incomodarão os brancos. O racismo existe porque perdemos tempo, dinheiro (que já é escasso) e esforço nos moldando aos padrões da sociedade.

O racismo ainda existe porque apenas 4 familiares meus, se muito, frequentaram a universidade pública e nenhum exerce a profissão. O racismo ainda existe porque vejo familiares meus onde negros são a maioria (presídios). O racismo ainda existe porque negras engravidarem mais cedo é normal, porque pobre gosta de ter filho. O racismo ainda existe porque eu sempre espero uma piada preconceituosa quando estou presente em ambientes majoritariamente  brancos e quando isso não acontece eu assusto. É isso, o racismo me assusta e me incomoda, mas falar sobre isso é chatice. 

Recentemente aqui em Jataí foi inaugurado uma extensão do shopping, e dentre os estabelecimentos acrescentados temos a sensação do momento: Chicago. A nova pagação-de-pau jataiense para os norte americanos. Ambiente elitizado. Com funcionários a caráter norte americano. Com televisões expondo jogos norte americanos. Com clientes majoritariamente brancos. E, claro, algumas exceções entre a regra. Mas falar sobre isso é chatice. Olha o tanto de negro no shopping (trabalhando), olha o tanto de negro no shopping (te servindo), olha o racismo não existe mais, olha não existe mais resquícios de escravidão no nosso país...

Nós somos a exceção, não a regra. Nós fazemos com que o país tenha a falsa ilusão de que está tudo bem. Mas não está. Nós entramos na vida social por meio de cotas. São necessárias, mas não são a única saída. Nós não queremos ser exceção. Mas falar sobre isso é chatice. Mas falar sobre isso incomoda.

“Precisamos pensar o quanto o racismo impede a mobilidade social da população negra” - Angela Davis


Alyne Lima

Instagram: @umcafeemilrabiscos e @alyneblima

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