sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Clube das Letras- O Sol na Cabeça: Contos, de Geovani Martins


Pra quem não sabe eu tenho um Instagram para estudantes de Letras Português do Brasil todo (@literatostudy). Lá eu posto dicas de livros, converso sobre motivação, foco nos estudos, saúde mental dos universitários,  dentre outros. Esse ano, começamos por lá um projeto novo intitulado Clube das Letras, totalmente online, para podermos conversar sobre literatura. O objetivo é utilizar a literatura como forma de escape da  pressão do dia a dia que pode gerar estresse, ansiedade, e, claro, o clube também tem o intuito de aumentar o engajamento dos formandos na leitura de textos não acadêmicos. Sendo assim, faremos todos os meses a escolha de um livro para leitura e discussão em grupo e o primeiro livro escolhido foi o livro de estreia do autor Geovani Martins: O Sol na Cabeça: contos. 

Eu tenho que salientar que eu gostei muito da escolha do livro, primeiro por ser um livro de contos que é um gênero pouco lido e pouco discutido na blogosfera e no booktuber, salvo exceções, e que no entanto é muito bom pra ser levado para sala de aula. Segundo, por ser um livro estreante de um autor brasileiro jovem e que fez e está fazendo muito sucesso não só aqui, mas também em outros sete países, e que também já vendeu direitos para o cinema. Terceiro, por ser de uma temática do meu agrado, e que, apesar de não adentrar - acredito eu- no âmbito de literatura negra ou afro-brasileira, carrega em si um enunciado interessante das favelas do Rio de Janeiro. 

O livro tem ao todo treze contos modulados pela violência e discriminação racial que crianças e adolescentes, narradores dessas histórias, sofrem ao construírem a vivência deles naquele meio. No conto que abre o livro - "Rolézim"- o leitor já tem um choque inicial rudimentar com a linguagem que é muito própria e característica do meio e que é colocada no livro como natural e não como alheio a realidade das normas padrões, ou seja, não é posta entre aspas ou em itálico para demonstrar distância.

Outra coisa que me chamou a atenção foi a constante colocação em cena de coisas que os incomodam. Diferenças religiosas, pontos de vistas diferentes com relação a polícia, a vida de forma geral, o contraste entre os que moram na favela e os que estão distantes do morro. Algumas passagens que demonstram que o problema do branco, digamos assim, é muito pequeno e divergente de tudo o que ele passa, assim tornando-se um incômodo, pois são frívolos. E isso é muito interessante de perceber e analisar.

Teve alguns contos que gostei mais que outros, que eu achei que abordaram melhor as problemáticas da vida na favela e que transpassaram melhor essa inquietação pro leitor. Um desses exemplos é o conto 'Espiral' que mostra o medo mascarado de preconceito que o branco sente com relação ao negro favelado, o esteriótipo de que todos são ladrões, mau-caráteres e que não são dignos de estarem simplesmente caminhando em uma rua que não seja da favela.

Acredito que seja um livro muito bom para discussão, com temas pertinentes e que carrega várias coisas em seus entremeios que precisam ser escancaradas na sociedade brasileira. Um livro muito necessário nesses tempos de intolerância, ódio e ignorância, que vai muito além de uma 'literatura de favela'. 

É isso, e quem quiser entrar no grupo de leitura ainda dá tempo! Mesmo que não faça o curso de Letras é super bem-vindo! Vamos fazer boas leituras em 2019! E o próximo livro do clube será escolhido em breve e será divulgado lá no instagram.

  • Capa comum: 112 páginas
  • Editora: Companhia das Letras; Edição: 1ª (2 de março de 2018)
  • Idioma: Português
  • ISBN-10: 8535930523

Alyne Lima

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