Eu sou curiosa. Eu sou o tipo de pessoa que adora ler biografias e livros em forma de diário, pois contam detalhes, contam o dia a dia, contam coisas que uma narrativa comum não esmiuçaria. Sou, em consequência disso, o tipo de pessoa que se ler sobre a vida de alguém ou assistir a um documentário muito convincente sobre, me sinto amiga da pessoa. Aconteceu isso com Frida, quando li sua biografia de mais de 600 páginas, aconteceu isso com a Laerte após assistir seu documentário na Netflix, e está acontecendo agora com Shonda Rhimes, após ler o seu livro 'O ano em que disse sim - Como dançar, ficar ao sol e ser sua própria pessoa.'. Tenho que deixar claro que o apego por essas pessoas não surge apenas do fato de eu os ler, mas também do fato de eles me ensinarem algo, e deixarem que suas almas escancaradas passe algum tipo de coisa boa para quem as observa.
Shonda me transpassou diversos ensinamentos como, por exemplo, não apenas sonhar, mas também levantar a buzanfa da cadeira e ir lutar pelos seus sonhos. Ou batalhar como Mulher e Negra pelas coisas que são suas por direito. Ou acreditar no seu próprio potencial, mas uma coisa que realmente me marcou durante a leitura e durante esse último final de semana da minha vida foi o que a autora disse no capítulo intitulado: Sim às pessoas. Nessa parte do livro, Shonda nos diz sobre um discurso que dará para a Human Rights Campaing em 14 de março de 2015, em Los Angeles, Califórnia, por ganhar o prêmio Ally for Equalit. A autora nos diz então que apesar de já estar em melhores condições psicológicas para falar em público, ainda estava com dificuldade em se impor, apesar de lutar por outras pessoas enquanto escrevia, ainda não conseguia lutar por si mesma, e ao exteriorizar esse medo de estar sozinha para sua irmã Sandie, a mesma lhe dá o seguinte conselho: Convide seu pessoal, reúna seu pessoal. E isso, deu a Shonda Rhimes o ponto de partida para escrever seu discurso, já que a escritora queria dar a todos o que Sandie lhe deu: "A risada de escárnio, a sacudida de cabeça, reúna seu pessoal."
No discurso, Shonda maravilhosamente se pronuncia sobre a inclusão de personagens diversos em suas produções, e deixa a magnífica lição: você não está sozinho, não importa a raça, não importa o gênero, não importa a orientação sexual, portanto, reúna sua tribo. “Eu odeio a palavra “diversidade”. Sugere algo… Outra coisa. Como se fosse algo especial. Ou raro. Diversidade! Como se houvesse algo incomum em contar histórias envolvendo mulheres, negros e personagens LGBTQ na televisão. Eu tenho uma palavra diferente: NORMALIZAR. Estou normalizando a televisão". Isso, me fez pensar sobre a necessidade de encontrar o seu pessoal no mundo real, aqueles que estarão lá por você, mesmo se você ganhar só o prêmio de consolação.
Vou deixar mais claro para quem não está por dentro da minha vida pessoal. A um tempo atrás eu me inscrevi no meu primeiro concurso de poesia, sem muitas esperanças, pois não é meu gênero preferido para escrita, mas, acontece que fui selecionada entre os inscritos pra concorrer ao prêmio. Como o evento de premiação seria em uma cidade vizinha, eu meio que convoquei meu namorado a ir comigo pra me levar, mas eu não imaginei que meus pais, minhas irmãs e meus amigos mais próximos também se interessariam em ir, afinal, não é um evento que eu diria ser do 'estilo' deles, porém, eles foram, e eu lembrando da maravilhosa escrita de Shonda Rhimes, pensei: essa é minha tribo.
Essa é minha tribo que faria a viagem noturna de 1 hora até outra cidade, essa é minha tribo que encararia um evento que não é lá do seu estilo, essa é minha tribo que estaria caso eu estivesse entre os premiados e essa é minha tribo que estaria lá caso eu ganhasse apenas o prêmio de consolação. Eu tinha uma tribo. Eu tenho uma tribo. Eu não estava sozinha quando me chamaram para a entrega do prêmio de consolação. E eu não estava sozinha quando me chamaram para a entrega do prêmio de 2° lugar na categoria de poemas. Eu tenho uma tribo que me lembra de passar o batom e de andar de jeito menos mecânico. Shonda Rhimes tem a tribo dela que a lembra: Você não está sozinha. Eu tenho minha tribo que me mostra em pequenos atos que eu não estou sozinha e eu sou inenarravelmente grata a isso.
Obviamente, que o discurso de Shonda Rhimes tem uma magnificência e uma amplitude gigantesca e caberia usá-lo para problematizar e deixar claro que histórias envolvendo mulheres, negros e personagens LGBTQ devem ser normalizadas ou invés de encaradas como um retratado da minoria, pois não são minorias. É interessante, porém, perceber que a autora conseguiu fazer um discurso atingir seu grau máximo e também suas entrelinhas, colocando esse pensamento inquietante e também reconforte de que: você não está sozinho. Olhe ao seu redor e perceba quais pessoas estariam por você em momentos tristes e alegres, em momentos que você precisa de uma mão, em momentos que você acredita está sozinho, mas não está. Essa é sua tribo.
É uma via de mão dupla. "A ideia de que o amor existe, que é possível, que cada um pode ter uma “pessoa”… Você não está sozinho. O ódio diminui; o amor expande"
"Sua turma está por aí no mundo, esperando por você. Como eu sei disso? Por que a minha turma? A minha está sentada naquela mesa ali. Obrigada"
Texto amorosamente escrito para minha tribo: Mãe, Pai, Bárbara, Victória, Evandro, Camilla, Pedro.
Discurso na Integra: Você não está sozinho
Alyne Lima
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