terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Um café e mil prosas sobre livros... [Resenha] Hibisco Roxo

Depois de ler A menina Submersa- Caitlín R. Kiernan  no começo do ano de 2016, eu ainda não tinha lido outro livro com tema tão forte ou que me causasse tanto desassossego como Hibisco Roxo, escrito pela Nigeriana Chimamanda  Ngozi Adichie, causou. Esse livro vai muito além de sua proposta inicial de retratar a intolerância religiosa, ele aborda em seus entremeios a desigualdade social, o machismo, a dualidade branco x negro, a opressão, o medo, a má formação política e tudo isso narrado aos olhos da adolescente, Kambili, que - tenho que salientar- sofre várias dessas coisas ao longo da narrativa e nos faz abrir os olhos  para a situação e ter empatia com os personagens.

Resultado de imagem para Hibisco roxoNome: Hibisco Roxo
Nome Original: Purple Hibiscus
O utora: O perigo de mamanda dichie
Páginas:321
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2011
Para comprar: Submarino / Saraiva

A narrativa se passa na Nigéria em um momento que os efeitos da colonização branca na África se mostram mais penetrantes e devastadoras do que a sociologia e a economia imaginam. O catolicismo de um grande capitalista, Eugene, que oscila entre a desambição e a obsessão religiosa, faz com que a protagonista, Kambili, e sua família, inevitavelmente, sofram os terríveis pesadelos de viver sobre o mesmo teto e tão perto da insensatez e pouca flexibilidade de seu pai.

O livro se divide em quatro partes, sendo duas delas essenciais para a compreensão da história: "Antes do Domingo de Ramos" e "Após o Domingo de Ramos", essa data marca um fato importante e turbulento na vida da família, o dia que Jaja, o filho mais velho do casal, se recusa a receber a comunhão na missa, o que aos olhos de Eugene, como já dito anteriormente, extremamente religioso, é uma desavença aos bons costumes, gerando uma discussão, esse sendo separador de águas dentro da narrativa.

Nos entremeios dessa narrativa conhecemos Tia Ifeoma, que embora seja irmã de Eugene é seu oposto em vários aspectos. Ifeoma representa o lado oposto na escala social com relação ao irmão, enquanto Eugene tem dinheiro para custear bolsas de estudos para mais de 100 pessoas além das outras pequenas doações, Ifeoma e seus três filhos poupam água da descarga do banheiro, reaproveitam alimentos estragados e muitas vezes ficam sem gasolina mesmo para pequenas viagens. Por outro lado, a casa de Ifeoma carrega mais flexibilidade, risos, família, compreensão e Kambili e Jaja descobriram os prazeres dessa diferença notável de ambientes durante uma estadia na casa da tia, o que lhe abriram - lentamente - os olhos para o que poderia ser diferente. Até chegar o fatídico Domingo de Ramos e tudo vir a tona.

Essa história é muito chocante e revoltante em vários aspectos, principalmente para quem está fora da história, que tem outra visão da vida e sabe que ela pode sim ser de outra maneira, mas talvez para aquela família que estava dentro daquele contexto sem conhecer outra realidade, sempre criada por limites rígidos, sem televisão, sem rádio, sem amigos e conversas calorosas, "pagando" por seus pecados diários e acreditando nessa obsessão religiosa, a liberdade parecia mesmo algo utópico.

Livro que nos ajuda a criar empatia. 

❤ favorito

Alyne Lima
Instagram: @alyneblima

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