"Diga-me o que você anda fazendo, tente não atrapalhar além da conta, divirta-se mais, já que do jeito que o mundo anda estamos todos à porta da morte e não vale a pena deixar esse mundo sem ter se divertido um pouco na vida. [...]"
A história de Frida Kahlo (1907- 1954) começa e termina no mesmo lugar - A casa azul na rua Londres. Quando Frida nasceu, a casa de Coyacán tinha apenas três anos de existência. Em 1936, Frida retratou seu lugar de nascimento e sua árvore genealógica na pintura Meus avós, meus pais e eu. O retrato dos pais Matilde Calderón e Guillermo Kahlo é baseado em sua fotografia de casamento. Os avós maternos, situados à cima da mãe da pintora, Antonio Calderrón (índio) e a Isabel González y González (de origem espanhola). Os avós paternos um casal europeu Heinrich Kahlo e Henriette Kaufmann Kahlo.
“Foi um daqueles acidentes que fazem uma pessoa, mesmo anos depois do fato, estremecer de horror. Envolveu a colisão entre um bonde e um precário ônibus de madeira, e transformou a vida de Frida Kahlo.”
O acidente ocorreu no fim da tarde de 17 de setembro de 1925, um dia depois da celebração do aniversário de independência mexicana da Espanha. Esse talvez tenha sido um dos casos mais tristes e doloridos da vida de Frida, já que as consequências desse acidente perpetuaram por toda a vida de kahlo.
“Pouco depois que entramos no ônibus houve a colisão. Antes disso, tínhamos subido em outro ônibus, mas como eu tinha perdido minha sombrinha, descemos para procurar e foi por isso que acabamos entrando no ônibus que me destruiu. O acidente aconteceu numa esquina em frente ao mercado de San Juan, exatamente em frente. O bonde veio se aproximando devagar, mas nosso motorista era jovem e nervoso. Quando o bonde fez a curva na esquina o ônibus foi prensado na parede. Eu era uma menina inteligente, mas muito pouco prática, apesar de toda a liberdade que eu tinha conquistado. Talvez por causa disso, não avaliei a situação nem o tipo de ferimento que eu tive. A primeira coisa em que pensei foi em um balero [brinquedo mexicano] com cores bonitas que eu tinha comprado naquele dia e que eu estava carregando comigo. Tentei procurar o brinquedo, achando que o que tinha acontecido não teria maiores consequências. É mentira que a pessoa tem consciência da batida, é mentira que a pessoa chora. Em mim não houve lágrimas. A colisão nos jogou para a frente e um corrimão de ferro me varou do mesmo jeito que uma espada rasga a carne do touro. Um homem me viu tendo uma tremenda hemorragia. Ele me carregou e me deitou em cima de uma mesa de bilhar até que a Cruz Vermelha chegasse.”
Uma barra de ferro atravessou o corpo de Frida, quebrando sua coluna em três lugares, a clavícula, terceira e quarta vértebras. Teve onze fraturas no pé direito, uma luxação no cotovelo esquerdo e sua pélvis se quebrou em três lugares. A barra de ferro tinha literalmente entrado pelo quadril esquerdo e saído pela vagina, rasgando o lábio esquerdo. "Perdi minha virgindade", ela disse.
O acidente, ainda, impossibilitou Frida de realizar o sonho da maternidade. Apesar de engravidar, sofreu sucessivos, exaustivos e infelizes abortos. A dor e o sofrimento, ocasionado pela imobilidade causada pelo acidente fez de Frida uma pintora que, ainda que iniciante, despontava grande talento e irreverência. Na maioria dos seus quadros Frida era seu próprio modelo, pois ela era o que mais via no seu quarto fechado de recuperação.
Em 1928, entrou no Partido comunista mexicano e conheceu o muralista Diego Rivera, com quem se casa no ano seguinte. Sob a influência da obra do marido, adotou o emprego de zonas de cor amplas e simples, num estilo propositadamente reconhecido como ingênuo. Procurou na sua arte afirmar a identidade nacional mexicana, por isso adotava com muita frequência temas do folclore e da arte popular do México. Diego, era um admirador e incentivador do trabalho de Frida, lhe apresentava pessoas e exposições influentes, o que ajudou Frida a ser reconhecida no mercado.
“Diego, houve dois grandes acidentes na minha vida: o bonde e você.”
Sua relação com Diego não era a das mais saudáveis, Diego sempre deixou claro que seu primeiro amor era a arte (seu trabalho), embora amasse Frida, e essa, por outro lado, abdicava da vida para deixar a vida de Diego mais "fácil", deixando o trabalho para segunda mão. Frida e Diego viveram uma história de amor, admiração e traições mútuas.
" [...] ela me falava o quanto era triste a vida com Diego. Ela jamais se acostumou aos casos dele. Sempre surgia uma ferida nova, e ela continuou sofrendo até morrer. Diego jamais se importou. Ele dizia que fazer sexo era como urinar. Ele não coseguia entender por que as pessoas encaravam isso como tanata serenidade. Mas ele tinha ciúmes de Frida - dois pesos e duas medidas, o duplo padrão de conduta do "gran macho"."
Em 13 de julho de 1954, Frida Kahlo, que havia contraído uma forte pneumonia, foi encontrada morta. Seu atestado de óbito registra embolia pulmonar como a causa da morte. Mas não se descarta a hipótese de que tenha morrido de overdose, devido ao grande número de remédios que tomava. A última anotação em seu diário, que diz "Espero que minha partida seja feliz, e espero nunca mais regressar - Frida", permite a hipótese de suicídio. Seu corpo foi cremado, e suas cinzas encontram-se depositadas em uma urna em sua antiga casa, hoje Museu Frida Kahlo.
Assim como muitas pessoas eu, antes de ler essa biografia, conhecia pouco sobre a vida de Frida Kahlo, porém, conhecia o nome e sabia que era uma figura de extrema importância para a história do México e do mundo. Ler essas páginas foi de extrema importância, alegria e contribuição pra minha vida pessoal. Criei um laço com a Fridinha, pois senti suas dores, seus medos, alegrias, percebi dentro dela uma figura feminina que, apesar de sempre maltratada pela vida, continuava forte, irreverente e batalhadora nos seus ideias.
Me despeço com essa trança barroca.
Autor: Hayden Herrera
Editora: Bilioteca Azul
Número de páginas: 620
Média de preço: 50R$ - 65R$
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