E quando você chega aos 30?

E quando você chega aos 30 e ainda mora na casa dos pais? Ou você saiu de casa recentemente, mas não faz a mínima ideia de como se frita um ovo, ou se assusta com o tanto de contas que chegam no final do mês. E o dinheiro não sobra. O dinheiro não sobra porquê você, infelizmente, ainda não tem a carreira do sonhos, ou decidiu que agora é hora de (re)começar uma faculdade. O dinheiro não sobra porquê você agora tem um filho, tem novas obrigações, novas prioridades. O dinheiro não sobra porquê você decidiu investir em você no final de semana passado, foi ao salão ou saiu pra beber aquela cervejinha, e fez bem, muito bem, pois aos 30 investir em você é a prioridade. Aos 30, podemos nos esquecer desse detalhe. Quem é a prioridade da sua vida? Você pode responder sua mãe ou sua filha...mas se você não tiver você, sua filha ou sua mãe não terão ninguém! Só para, respira, e lembre-se: Cuide de você.

Por que até hoje não começou a academia, não saiu daquele emprego que suga suas energias, não se desconectou daquelas amizades corrosivas, não tomou aquele porre e voltou pra casa tarde da madrugada, não foi fazer aquela viagem dos sonhos, não fez aquela tatuagem, não se perguntou e descobriu a resposta para a pergunta: "Quem sou eu?", porquê ainda não fez Ioga, não visitou um museu famoso, não dançou até as pernas doerem? Por que até hoje não realizou os seus sonhos mais íntimos, mais simples, mais seus?

Aos 30 temos uma ideia de que grande parte da vida é frustrada e roubada pela dureza da realidade, e, infelizmente, é. Mas aos 30 temos maturidade o suficiente para distinguir o que realmente nos faz feliz. E começamos a nos encantar pelas coisas simples da vida. Uma plantação de girassol, um beija-flor que entra pela janela, o sorriso do nosso filho, sobrar dinheiro no final do mês, ter o que comer na mesa. Você passou daquela fase de "Preciso disso pra ontem", você está desacelerando e percebendo, de fato, as coisas que existem ao seu redor, e como essas coisas compõem a sinfonia de uma vida que nem sempre é perfeita (e nunca será mesmo), mas que está aqui para ser vivida nos detalhes, e não mais superficialmente.

Aos 30 você coleciona um misto de desprazer e esperança. Certeza e medo. Desespero e autoconfiança. E, muitas vezes, não se permite transbordar, porque agora você não tem mais tantos amigos e não confia em mais que três pessoas e sabe que, atualmente, problemas, crises, dores são resumidas em uma única palavra: drama. Que choro tem que ser escondido e tristeza maquiada. Não é permitido "abaixar a guarda" ou "deixar a peteca cair", não é permitido falhar, afinal, você tem 30 anos, não é verdade?

Você tem 30 anos, mas ainda tem a alma de criança, mais dúvidas que seu filho de 5, mais dores nas costas que seu pai com 50. Você tem 30 anos, mas não precisa carregar o mundo nas costas, não precisa ser eficiente 24 horas por dia, não precisa ter o carro do ano, não precisa ter a casa dos sonhos, ter doutorado ou não ter mais medo do escuro.

Os anos passam, e a correnteza da vida leva sonhos que não convém e traz outros para incrementar esse lugar. Você é completamente bem sucedido, só sua vontade de fazer algo por você e ser orgulho para alguém já te faz grande. Os anos passam e a correnteza da vida leva sua jovialidade, suas forças e sua pele lisa, talvez você precise de uns renews, mas talvez, só talvez, o que você precisa é de um porre de vida. 

E lembra daquele sonho de viajar pra Miami?

(30, a idade do sucesso)

Alyne Lima

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