Eu sou apaixonada pelas letras, pelas palavras e pelo encantamento que ambas causam em mim. Eu não me lembro como surgiu essa paixão, se foi sutil ou de repente, se foi ou não induzida, certamente que sim, mas eu não sei e não me lembro com clareza por quem. Eu não lembro qual foi o primeiro livro que me encantou, o primeiro livro que peguei em uma biblioteca ou o primeiro livro que ganhei. Por qual motivo resolvi colecionar livros, leituras, histórias e vidas em mim? Por qual motivo escolhi essa atividade tão solitária, silenciosa, e ao mesmo tempo tão expansiva e significativa? Eu escolhi habitar um castelo. Fui ora príncipe, ora princesa, ora ladrão, ora dragão, ora feiticeira e sempre sonhador. Eu viajei mundos no calor do meu quarto. Eu enfrentei desafios na proteção da minha casa. Eu aprendi em silêncio. E não mais silenciei meus pensamentos diante dos infinitos autores e criadores desses mundos. E resolvi me tornar uma.
Agora, eu sigo nessa tentativa de montar um castelo, primeiro de palha, depois madeira, e por fim tijolos. Algumas pessoas negaram na porta - pequeno castelo - outras, vieram para um tour e não o acharam tão atrativo assim, outras chegaram, gostaram do ambiente, desfizeram as malas, decoraram à sua própria maneira e passaram a habitar meu (nosso) esmero castelo. Talvez eu não seja mesmo uma pedreira tão qualificada, talvez meus tijolos estejam um pouco tortos, a tinta escassa, os encanamentos mal resolvidos. E as ideias para (re)estruturar tudo isso são desviadas para atividades mais “necessárias” e exigidas pela sociedade capitalista. Talvez meu artigo para a faculdade fique pronto antes do prazo e eu consiga sentar, pensar, esperar a inspiração bater à porta, escrever até os dedos calejarem e conseguir uma pequena janela ou um esmero jardim com rosas vermelhas. Talvez jardins atraiam mais moradores para esse castelo.
Alguns moradores trazem adornos, que semeiam, regam e ajudam a florescer esse pequeno sonho que há em mim. Alguns moradores levam algo que eu espero que semeie, regue e ajude a florescer qualquer sonho, alegria, paixão, ou sentimento bom que existir. Estamos em uma relação de troca, algumas palavras por alguns minutos do seu tempo. Um convite bem feito e uma placa de bem-vindo, por alguém que não seja passageiro, visitante, andarilho... mas que fique, e goste dessa simples troca de favores pela alma.
Eu sou apaixonada pelas letras, pelas palavras e pelo encantamento que ambas causam em mim. Eu sou apaixonada pelas letras, pelas palavras e pelo encantamento que eu posso, com ambas, causar em quem as lê. Eu sou apaixonada pelas letras, pelas palavras e talvez eu sempre serei aquela pessoa que fica extasiada quando entra em biblioteca ou meio boba quando pega aquele livro perfeito de capa dura. Eu sou apaixonada pelas letras, pelas palavras e não vou exigir de ambas recursos e força suficientes para me manter sem qualquer outra profissão. Eu sou apaixonada pelas letras, pelas palavras e sei o quanto é difícil viver pela arte. Eu sou apaixonada pelas letras, pelas palavras e sei o quanto é difícil construir castelos e conquistar moradores, e o quanto é fácil se apaixonar mais e mais mesmo com esses infinitos detalhes, desanimadores ou não, dependendo do seu ponto de vista, e do que você espera de sua relação com a arte.
O que eu espero da arte? A arte em si.
Alyne Lima
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Imagem do google
Cá estou eu, outra vez, conhecendo mais um cômodo deste esmero e ditoso castelo. Excelente lugar para descanso, após um longo e exaustivo dia movimentando as engrenagens do capitalismo e dos protocolos sociais. Obrigado Alyne Barbosa, por nos abrir as portas deste seu mundo, tão aconchegante e pela hospitalidade. Embora a abdução do seculo presente nos prive de gozar sempre de tamanho deleite, é sempre um prazer visitar este castelo maravilhoso, e saiba, sempre que precisar de uma argamassa, ou um tijolinho, ou mesmo um serviço de jardinagem, ficarei feliz em contribuir.
ResponderExcluirNão pare de edificar menina....