
Gosto muito quando música lenta desacelera o motor que há em mim
Gosto muito quando poema sem métrica encontra a rima que há em mim
Gosto muito quando o nascer do sol desperta a poetiza que há aqui
E que escreve lento
E que escreve sem rima
E que, às vezes, nem escreve
E fica tudo no limbo
As ideias ziguezagueam e procuram sintaxe que as estruturem
Procuram tinta que as exumem
Procuram mãos que as lapidem
Na lápide da eternidade
Gosto muito quando o poema conversa com a alma, remoe a carne e faz sopa com os ossos
Gosto muito quando o poema cura a alma, remenda a carne e calcifica os ossos
Gosto quando, quase sem querer, amores se encontram
Sorrisos se perdem
E sonhos se ganham
E nesse gostar vou exumando
Mexendo na minha lápide fria
Eterna poeira
Remoendo o passado e traçando futuros que provavelmente não viverei
Sentada no mármore gelado dessa tumba fria
Revejo minha lápide
Faço rimas pobres com meu epitáfio
E faço bem me quer com as flores mal cheirosas que estão ali
Descubro formas de fazer que a musa me aceite como sua concebedora
Que toda grandeza transpasse minha corrente sanguínea e sequem na tinta dessa caneta esferográfica
Que as dores
Assim como eu
Faça um acordo com a vida
E descaso com a morte
E que as musas entendam
Eu não tenho dom
Eu tenho dores
Que latejam...
E me fazem querer
Ás vezes morrer
Ás vezes viver
Ás vezes exumar
Alyne Lima
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