Raramente o amor se escolhe ou se
mantém tendo por base atributos físicos. Pouco peito. Muito peito. Muita bunda.
Pouca bunda. Gordurinhas demais. Gordurinhas de menos. Quando olhamos para
outro ser e encontramos nele a definição de amor, não olhamos por mais que
cinco minutos os atributos físicos. Eles são superficiais demais para se
encaixar em algo tão lindo e singelo como o ato de amar. Passamos por esses
caminhos tortos e nos deparamos com o jeito puro que o outro sorri ao te ver
chegar, ou o brilho dos olhos ao ganhar um abraço seu, ao respeito que tem com
você. Nós desornamos a alma para o amar.
Eu sei que a vida nos ensina o
contrário. Que temos que aformosear nossas malezas para que o outrem nos
aceite. Para que o outro nos ame. Tampe essa acne. Esse cabelo oleoso. Essa
cara de cansaço. Essa depressão. Essa família torta. Queime essas gorduras.
Passe uma maquiagem. Faça essa barba. Olha esse reboco na parede! Se adorne. Se
enfeite. Se transforme em algo que você não é, e nem nunca conseguiria ser no
dia a dia. No acordar às 6 para pegar o ônibus e no dormir às 2 para terminar o
TCC. A sociedade nos impõe um modelo, um recorte que fazemos nas redes sociais
e vendemos em troca de uma parca saúde mental e um amor de atributos. A que
custo?
Então se adorne. Mas comece por
dentro. Escolha as músicas que te acalmam e as coisas que realmente te fazem bem.
As coisas que você, depois de muito debate interno para ver se era uma imposição
da sociedade uma vontade própria, escolheu para você. Escolha ler livros de
romance ou terror. Escolha MPB ou POP. Escolhe comer ou não carne. Escolha
passar ou não maquiagem às 7 da manhã. Escolha fazer ou não academia. Escolha
fazer Yoga ou Pilates. Esse é você. Sem adereços. O amor deve te escolher
assim. E o amor deve aceitar suas mudanças.
Você pode achar que hoje tomar
refrigerante é legal, mas amanhã... amanhã é outro dia e talvez você não ache que
tomar refrigerante seja bom para você e para o seu corpo. E talvez você decida
não mais passar maquiagem às 7 da manhã. Ou começar um esporte novo. E o que o
amor tem a ver com isso? Nada. O amor se adapta. Porque o amor não te escolheu
por atributos físicos. Amor não te escolheu por adornos. O amor te escolheu por
ser recíproco. Por fazer bem. O amor te escolheu pelo seu eu completo e por sua
metamorfose diária.
Nós desornamos a alma para amar
porque sabemos que a pele envelhece, o corpo fica flácido e as cicatrizes ficam
à mostra. Nós desornamos a alma para amar quando não queremos um amor
passageiro ou turista. Nós desornamos a alma para amar quando percebemos que o
outro está disposto a fazer o mesmo. Expor as cicatrizes, mostrar as feridas,
os defeitos, os medos. E compreendê-las como composição do seu eu. Entendê-las
como parte do pacote: amor.
Instagram: @umcafeemilrabiscos e @alyneblima
Lindo Alyne!
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