terça-feira, 8 de outubro de 2019

Reflexões: O poder da influência de um bom professor (valorização)

"Oh capitain, my capitain!"

Após (re)assistir ao filme Sociedade dos Poetas Mortos (Dead Poets Society), que é um filme americano de 1989, do gênero drama, dirigido por Peter Weir, fiquei refletindo sobre a importância da influência de um bom professor em nossas vidas, principalmente, nas circunstâncias de constantes desvalorizações e ataques à educação. 

O filme se passa em 1959, em uma tradicional escola norte-americana apenas para garotos. Guiada por 4 grandes princípios (tradição, honra, disciplina e excelência), a Academia Welton se orgulha de formar grandes líderes numa sociedade em que os pais tinham enorme influência na escolha profissional dos filhos. Nesse contexto, um novo professor, John Keating, confronta os ideais conservadores da instituição, que pouco valoriza expressões artísticas e limita a liberdade dos estudantes. Keating estimula o pensamento crítico e autônomo dos jovens e os ajuda a enxergar o mundo de um ponto de vista diferente, perseguindo suas paixões e assumindo as rédeas das próprias vidas. Dessa forma, tenta acabar com a passividade frente a um sistema autoritário que não permite que reflitam sobre suas trajetórias e desejos. Além disso, a partir da temática do carpe diem, o professor desperta nos alunos a vontade de se descobrirem e aproveitarem a vida.

"Carpe diem. Aproveitem o dia, meninos. Façam de suas vidas uma coisa extraordinária." -Sociedade dos Poetas Mortos

É interessante, inicialmente, frisar o constante interesse, em nossa sociedade, em retornar aos valores tradicionais nas escolas - disciplinação de corpos, como já conhecemos pelas colocações do filósofo Michel Foucault, se não conhece, recomendo pesquisar sobre- que foram postulados durante o regime da ditadura militar, no Brasil. Assim, a escola, nessa formulação, visa apenas a produção de mão-de-obra rápida, sem dar espaços para crescimento intelectual, sem a busca pelo crescimento crítico e a valorização das paixões - ou das artes. Posto assim, o conhecimento sobre a literatura, em especial, acaba sendo visto como supérfluo, por mão ter uma finalidade prática, e assim, é desvalorizado. E o professor Keating, no filme, propõe um ensino que vai contra toda essa desvalorização da arte e do conhecimento com fundos utilitários.

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Continuando: Certo dia, um dos estudantes fica sabendo que o professor havia sido aluno da Academia e participara de um grupo chamado “Sociedade dos Poetas Mortos”. Ao ser questionado sobre o assunto, Keating explica se tratar de uma espécie de clube de alunos que se reuniam para ler poesia. Inspirados pela ideia, os jovens decidem fazer o mesmo. Entre as leituras nos encontros noturnos em uma caverna próxima à escola, cada um se depara com novos sentimentos, sonhos e características que até então não conheciam sobre si mesmos. Em meio a aulas intrigantes, leituras inspiradoras e descobertas conflituosas, uma série de consequências acomete os personagens. Entretanto, ao final, fica claro o reconhecimento dos alunos ao professor e a perpetuação do seu legado, que ensinou aos jovens a possibilidade de encarar o mundo de uma maneira nova.

"Garotos, vocês devem se esforçar para encontrar suas próprias vozes. Porque quanto mais vocês esperarem para começar, menos provável que vocês possam encontrá-la. Thoreau disse: 'A maioria dos homens leva uma vida de desespero silencioso'. Não se rebaixem a isso. Saiam!"  - Sociedade dos Poetas Mortos

Para que a ação de educar seja concreta, o professor precisa lidar com uma série de burocracias exaustivas como: a redução da educação à formação de competências, sistema escola- empresa, demandas exacerbadas e indevidas, situações que causam desgaste físico e metal antes mesmo de entrar para sala de aula. Lá, problemas como desvalorização, desinteresse e desrespeito. E após, trabalhos extras - correção, planejamento, lidar com demanda via redes sociais, sistemas - e ainda... baixo salário. Obviamente o sistema não quer que uma pessoa chegue apta - mental e fisicamente - para entrar em sala de aula disposto à ministrar: aulas intrigantes, leituras inspiradoras e causar descobertas conflituosas como o senhor Keating, não é mesmo? No entanto, ainda muitos professores, mesmo com essa demanda, insistem nessa construção imaterial nada válida para a sociedade capitalista: a sabedoria. (Valorize!!!)

Os alunos, por outro lado, raramente veem esse contexto. Ou seja, quantas batalhas aquela pessoa que se colocou ali como professor teve que enfrentar antes de lidar com uma multidão de seres humanos - ávidos ou não pelo conhecimento - para tentar fazer aulas minimamente decentes com os minutos que restam após toda a burocracia e disciplinação de corpos. Raramente se veem alunos interessados em cooperar com essa profissão, até porque, muitos estão ali forçados pelos pais e pelo sistema, sem saber suas ambições e desejos, e como esse ambiente pode ser benéfico devido a incerteza. 

Assim, ter pessoas para apontar nossas possibilidades e que sejam resistência frente ao caos que a sociedade enfrenta, acaba sendo, informalmente falando, "uma mão na roda", não apenas na vidas dos seres que se colocam ali como alunos, mas também rumo ao caminho da valorização da profissão das profissões, que acarretará, a duras penas, a um melhor entendimento sobre essa formulação do que é ser escola/aluno/professorNo entanto, não é de interesse do governo que isso aconteça, temos que agir por nos mesmos. 

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