Não sabemos mais cuidar da nossa
saúde mental, pois somos jogados a encontra-la em ambientes vazios. Você não
vai se encontrar em uma balada às duas da manhã de um sábado à noite. Você vai
se encontrar ao sair da sua rotina em uma terça feira nublada e ir visitar a
sua avó que por muito esperou uma visita sua e um sorriso para dizer que está tudo
bem. Você vai se encontrar ao rir de uma comédia romântica as oito da noite,
hora que essa que normalmente estaria “assistindo” a vida de outra pessoa e
imaginando o quanto seria bom ter uma bolsa da Louis Vuitton como ela. Você vai
se encontrar ao ler aquele livro que já está empoeirado na estante ou tentar
fazer aquela receita de bolo vegano que você sempre deixa para outra hora.
Não existe mais solidão, pois
somos constantemente coagidos invisivelmente a participar dessa rede cibernética
de inutilidade. Nunca resolvemos problemas com hashtags, mas continuamos postando para mostrarmos nosso falso
ativismo. Nunca encaramos os verdadeiros problemas de frente, mas postamos
memes para aliviar a parafernália que tem se tornado nossa vida. Postamos sobre
saúde mental e nos afundamos em remédios para dores, mal sabendo que esses
problemas poderiam ser resolvidos com um pouco de... como chama mesmo? Saúde
mental. Saúde mental para conseguir sair para uma caminhada sozinho e apreciar
a natureza. Saúde mental para organizar sua vida não perdendo tempo com a vida
alheia ou problematizações chiques. Saúde mental para entender que você não
pode mudar o mundo sozinho, mas você pode mudar o seu mundo, mudar o mundo ao
seu redor e já ser o herói.
Você vai se encontrar, mas não
nessa superficialidade que você tagueia
no instagram, se classificando e se recortando para que outras pessoas também
só vejam seus pontos positivos – afinal, quem quer ver nossos monstros? Você
vai se encontrar, mas naquilo que você selecionou para que não seja visível,
naquilo que você nega às uma da manhã, quando saturado de luz virtual e cafeína
seu corpo exige descanso, naquilo que você só encontra quando está sozinho. Em
solidão. Em solidão talvez você encontre um eu reprimido pelas pessoas que você
poderia ser quando perdeu tempo sendo um Frankenstein de outras pessoas. Um ser
bonito que aprecie o azul do céu sem a necessidade de picotá-lo em foto. Um ser
bonito que use a memória para guardar um poema de Carlos Drummond. Um ser
bonito que não finge ser feliz, mas que chora estar preso nesse cubículo temporal.
Uma pessoa com heterocromia que carrega no olhar o ciclo vitalício de uma folha,
e no coração uma esperança de que esse paradoxo de o mesmo que nos une nos
repele seja passado.
Não digo que estar em multidão
seja um erro. Digo que estar em solidão é, por vezes, necessário.
Alyne Lima
Instagram: @alyneblima e @umcafeemilrabiscos
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